NADA HÁ NOVO, DEBAIXO DO SOL
Lourildo Costa
Em Eclesiastes, livro da Bíblia Sagrada, encontra registros a respeito da vida humana, com a sua falta de justiça e desapontamentos: “Tudo é ilusão!” – concluiu o sábio.
Lendo os jornais hodiernos, também deduzimos que, ainda hoje, não nos livramos, no entanto, dos resultados da crise que assola o nosso país, contrário ao que todos esperavam. Além da consequência desmoralizante que ela teve sobre o governo Lula e os políticos de Brasília, praticamente malogrou-se o ano em curso e com dificuldades entraremos no próximo, que é ano eleitoral. Os poderes da União permanecem paralisados, pois já vinham se mantendo retroagidos em várias áreas vitais. A paralisia das reformas necessárias e a falta de eficiência da administração pública exigirão em troca o seu preço.
Temos convivido com as CPIs dos Correios, dos Bingos e do mensalão; cogita-se abertamente uma nova CPI para o Caixa Dois, para apurar o itinerário da roubalheira, marca do grande escândalo do governo do presidente Lula e que arruinou o Partido dos Trabalhadores.
Lembrei-me de uma conversa, flagrada durante uma viagem, em um ônibus, em setembro do ano de 1978. Dois idosos conversavam, despreocupadamente, enquanto os demais passageiros mantinham-se em silêncio.
- Pois é, na década de 40, comi o pão que o diabo amassou...
- E agora está aí o preço de uma guerra: Tudo caro, custando o olho da cara!
- Sei não. A ARENA vai cortar uma volta nas próximas eleições. Mesmo os políticos da direita buscando minhoca no asfalto, os eleitores vão descarregar seus votos na turma do MDB!
- A indignação é tanta que a população deseja mudanças drásticas: voto direto para presidente, maior democracia, liberdade de expressão – transformações da noite para o dia!
- É, mas o povo brasileiro, como disse o Pelé, não está preparado para votar corretamente.
Não fosse a entrada de um bêbado no ônibus, o diálogo entre os idosos teria prosseguido. O jovem recém-chegado pronunciava palavras características de um nordestino. Dizia coisas aos brados, de maneira cantarolante e desvairada. Seus cabelos tinham uma cor encarvoada, encarapinhados e sujos. Em um dos braços, trazia uma trouxinha com quinquilharias. Na outra mão, uma coberta maltrapilha. O ébrio atravessou a roleta, cantando uma canção triste e improvisada, cujo tema versava sobre amores e ciúmes. Executava um trecho musical com a voz e, em seguida, gritava:
- He lugar! He lugar!!
Ao meu lado, uma senhorita, exasperada, deixou de lado sua leitura. Notei que outras mulheres experimentavam certo temor. Alguns estudantes passaram a sorrir da situação.
O indivíduo embriagado exprimia seus sentimentos, por meio do canto. Estonteado, tentava equilibrar-se, num movimento oscilatório, tropeçando-se entre os passageiros.
- He lugar! He lugar!! – Emitia um som triste, pejado de saudades de um passado mui distante. Seus olhos pareciam carregados de sofrimento.
- He lugar! He lugar!!
A certa altura da viagem, o motorista encostou o veículo, dirigiu-se para o homem alcoolizado, ameaçou colocá-lo para fora do ônibus, caso não se calasse.
- Eu só ‘tô cantando, meu Jesus!
- Você quer descer ou ficar quieto?
- ‘Tá bem, meu Jesus! - he lugar! he lugar!!
O rapaz aquietou-se, porém, ainda sussurrava a música. Quase no fim da viagem, o viandante desceu e em passos largos e trôpegos desapareceu tragado pela boca da noite.
A jovem, ao meu lado, retornou seus olhos à leitura e não mais se ouvia os idosos falando sobre política. Muitos já haviam descido.
Alguns dias depois desse episódio, encontrei o mesmo indivíduo, no centro da cidade, estendido ao comprido, exibindo uma grande ferida provocada em sua perna que sangrava:
- ‘Smola, por favor! ‘Smola!...
- He lugar! He lugar!!
Lembrei-me dos apóstolos Pedro e João, quando foram ao templo para a hora da oração, encontrando, próximo ao Portão Formoso, um homem coxo de nascença e que tinha por hábito pedir esmolas às pessoas que entravam no pátio daquele edifício público destinado ao culto religioso.
Ainda hoje, milhares de anos depois, a história se repete. O que aconteceu antes virá a acontecer outras vezes. As coisas realizadas antes, serão realizadas novamente. Os pobres, o sofrimento, a corrupção, a demagogia, sempre teremos em nosso meio. Não há nada de novo neste mundo!
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